Onde a estrada vai nos levar?
O que virá?
O que virá?
“Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos...”
A estrada nos levara a Gurupi, Tocantins. Definitivamente, tudo novo.
Era nova casa.
Uma nova escola.
Novos amigos.
Novo...
Novo...
Mas o novo não agradava, não convencia, afinal não era fácil esquecer tudo que ficou pra trás.
Engraçado, meu herói fazia de tudo para que desta cidade passássemos a gostar. Mas no fundo nem ele mesmo gostava.
A inquietude
Não era virtude.
Logo aquelas terras voltou.
Aquele povo ele desafiou.
Parece até que esqueceu,
Que aquele povo daquela terra o expulsou.
Retornou às terras tocantinenses.
Mas logo sentiu saudade da sua gente.
E mais uma vez ao nordeste regressou.
Deixamos tudo pra trás, e lá deveria ficar. Mas como esquecer os parentes que lá deixamos? Os pais de minha mãe, seus irmãos, tinham permanecido naquela cidade. Voltar a morar não dava, mas pensávamos ser possível visitar... Era nossa gente.
Gente que como a gente entende o que se passa em nossa mente...
Em março de 2003
Meu herói quis voltar mais uma vez aquelas terras.
Ele não ia às escondidas.
Toda a cidade o via.
Aquele dia, daquele mês, daquele ano...
15 de março de 2003, 74º dia do ano no calendário Gregoriano, 75º em anos bissextos.
Existem dias que não são esquecidos...
15 de março de 1992 - Um terremoto mata 800 pessoas na Turquia.
15 de março de 2000 - Em uma sentença inédita, um júri de Nova York declara culpado de três acusações de estupro um homem não identificado baseado em seu DNA.
15 de março 2001 - Três explosões destroem a plataforma P-36 da Petrobrás na bacia de Campos. Dez pessoas morreram.
15 de março de 2003 – mataram o meu heroi (mataram o meu pai).
“Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá...”
Se eu soubesse onde essa estrada iria dar...
Eu seria o heroi.
Desses que salvam.
Aquela cidade que deixamos pra trás, ele, meu pai, insistiu em voltar (era só uma visita [mais uma], pra saudade matar, afinal, era lá o seu lugar, era filho daquelas terras. Naquelas terras agora iria descansar.
Pai, meu pai, porque foi voltar?
“E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...”
Krislanio Alves